A Conquista da Honra (Flags of our fathers, EUA/2006)



Heróis, celebrados publicamente, com direito a vários momentos de comemoração em diferentes partes do país. Homens que lutaram por sua bandeira, pelos princípios contidos em sua carta constitucional, por valores como a liberdade e a democracia. Jovens que se sacrificaram nas frentes de batalha do Pacífico, na guerra cruenta contra o Japão, vendo sucumbirem vários companheiros de farda e que, ainda assim, subiram ao topo da montanha e fincaram o símbolo máximo daquilo tudo que defendiam, a bandeira dos Estados Unidos.

“A Conquista da Honra”, mais um excelente filme do diretor Clint Eastwood, podia muito bem seguir a trilha do patriotismo que exalta os valores nacionais e coloca os norte-americanos no topo do mundo. Sensível ao que tem visto e vivido, o ex-prefeito de Carmel e astro de filmes de faroeste, dados bastante representativos para demonstrar o quão americano (até o último fio de cabelo) é Eastwood, resolveu fazer um filme diferente…

Trouxe com isto a história dos soldados que teriam fincado a bandeira norte-americana no topo de uma elevação em Iwo Jima, ilha dominada pelos japoneses na Segunda Guerra Mundial e por eles considerada terra sagrada, por isto mesmo, uma das mais duras e sangrentas batalhas travadas entre 1939 e 1945.

E, ao invés de mostrar o júbilo, a exaltação, nos colocou nos bastidores, atrás das cortinas… Por isso mesmo, não teve receio em demonstrar o quanto há de política na exploração do heroísmo nacional, mesmo que forjado, para conseguir aumentar a arrecadação com a venda de bônus de guerra para pagar os altos custos de manutenção do esforço de batalhas caríssimas em diferentes fronts…

Fez paralelos entre a chegada e o desenrolar das ações bélicas das forças americanas em Iwo Jima, apresentando sem máscaras a tragédia da guerra, durante a qual tantas vidas jovens foram ceifadas de forma brutal e assustadora e todo o estardalhaço e festa promovidos pelo governo, por empresários espertalhões e pela imprensa sensacionalista em função de uma foto proveniente da frente de batalha.

Foto clássica que traz os soldados norte-americanos, em grupo, fincando a bandeira de seu país no topo de uma colina em Iwo Jima e que celebrizou-se mundo afora, constando hoje em muitos livros de história. Este registro em celulóide teria representado a virada, a reconquista do espírito vitorioso que guiara os Estados Unidos durante toda a sua existência independente.

Da foto foram resgatados três soldados, consagrados como heróis e trazidos de volta a América, para destacar a valentia e bravura dos jovens combatentes no Pacífico e, principalmente, arrecadar fundos. Mas o que sentiam estes homens, de súbito tirados da companhia de seus batalhões, do cheiro forte de enxofre tão característico de Iwo Jima, da morte que os rondava e ameaçava ao mesmo tempo em que carregava alguns de seus companheiros?

Sentiam-se heróis? Sabiam-se dignos de todas as honrarias a eles concedidas? Concordavam com tudo o que estava sendo feito? Ou eram apenas sobreviventes de uma guerra insana? E depois de tudo isto, o que viria? Como seriam suas vidas? Existem realmente heróis ou somos mesmo de carne e osso, lutando para que as luzes não se apaguem mais cedo?

“A Conquista da Honra” é um filme grandioso enquanto espetáculo cinematográfico, nos propõe repensar a guerra, nos coloca em xeque quanto a valores ou idéias que temos, tem um elenco não muito conhecido, mas bastante convincente e competente e, principalmente, conta com a experiência, maturidade e sensibilidade de um velho caubói detrás das telas… Um craque da Sétima Arte… Imperdível.

Obs. Ao mesmo tempo em que produziu e dirigiu ”A Conquista da Honra”, Clint Eastwood realizou “Cartas de Iwo Jima”, mostrando o lado japonês daquela batalha… Mais uma demonstração de caráter e brio deste caubói, não acham? Estarei em breve produzindo um texto sobre esta outra produção de Clint, aguardem!

Por João Luís de Almeida Machado

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