Enterrem meu coração na curva do rio (Bury my heart at Wounded Knee, EUA/2007)






Civilizar, tornar civilizado ou capacitado para o exercício da civilidade. Quando compreendemos que na definição do termo civilizar não se estipulam parâmetros ou padrões que possam nortear exatamente que tipo de comportamente deve ser esperado das pessoas, ficam mais claros aos olhos de todos as atrocidades cometidas contra diversos povos e culturas ao longo da história.
Até mesmo porque há diferenças contextuais e culturais marcantes entre os diversos grupos humanos, claramente visualizáveis aos olhos de todos, que se em algum momento da trajetória humana na Terra fossem realmente levados em conta, jamais permitiriam ou legariam a alguma cultura tentar sobrepor-se a outras. A diversidade é a maior riqueza dos seres humanos…
Não há, entre nós humanos, melhores ou piores, apenas somos diferentes… Podemos, no entanto, nas adversidades e ameaças, abandonar e esquecer qualquer resquício de civilidade… Por isso mesmo, o melhor, sempre, é tentar encontrar o caminho do diálogo, da compreensão, do entendimento, da paz…
Mas ao invés disto, lutamos por ouro, terras, petróleo, mão de obra, diamantes…
“Enterrem meu coração na curva do rio” é a refilmagem do clássico livro de Dee Brown sobre o progressivo genocídio das culturas indígenas da América do Norte pelos colonos que ocuparam o oeste dos Estados Unidos.
Acuados pelo avanço dos colonizadores, os índios reagiram e sempre procuraram defender suas terras dos invasores. Por isso, ao longo da história do cinema norte-americano, quase sempre foram retratados como selvagens. Civilizar os nativos tornou-se “bandeira” de todos aqueles que, na realidade, queriam se apossar de terras ricas em minérios ou bastante férteis para o exercício da agricultura.
A mais recente produção baseada no livro clássico de Dee Brown nos coloca em contato com a história a partir tanto do viés político quanto do confronto que ocasionou a morte de milhares de indígenas e soldados. Ficam claros os interesses que motivaram as ações do governo americano em prol dos colonizadores, em especial a partir da confirmação da existência de jazidas minerais ricas em terras onde viviam os nativos.
Também se evidenciam os traços da cultura indígena tanto para o bem quanto para o mal. Não há somente santos e nem tampouco apenas pecadores. Os índios também são humanos e, nesse sentido, são igualmente retratados a partir tanto de seus atos mais nobres e heróicos quanto daqueles que demonstram suas fraquezas e vilezas.
Filme produzido pela HBO para a televisão, esta versão de 2007 de “Enterrem meu coração na curva do rio” tem produção esmerada, locações belíssimas, bons atores (inclusive Anna Paquin, que ainda menina concorreu ao Oscar por “O Piano”, de Jane Campion), roteiro bem amarrado e, principalmente, nos permite entrar em contato com a nossa consciência, em busca de respostas que permitam a humanidade evitar hoje e no futuro, novos massacres, genocídios e destruições em função da luta por riquezas…




Por João Luís de Almeida Machado

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