O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford (The assassination of Jesse James by the coward Robert Ford, EUA/2007)
Um espetáculo cinematográfico de primeiríssima grandeza. Este é o primeiro veredito que posso dar para a obra do diretor Andrew Dominik e estrelado pelo astro Brad Pitt, em uma de suas melhores atuações. Não é um filme para qualquer público. É um pouco lento para aqueles que procuram um western movimentado, atribulado, com muitos tiros, assaltos e confrontos entre os fora da lei e os xerifes.
Na realidade, não é um filme apenas para os fãs do gênero faroeste. Vai além por trabalhar aspectos da própria condição humana. Expõe de forma clara e envolvente o mito Jesse James (Brad Pitt) em minúcias de sua vida que passam ao largo daqueles que conhecem sua trajetória como um dos mais temidos bandidos de então.
Acompanhamos os irmãos James, nesse momento de sua história apenas Jesse e Frank (Sam Shepard), já que os demais haviam sido presos ou mortos, em sua última ação conjunta, o assalto a um trem. Nesta nova e derradeira empreitada conjunta eles contam com a ajuda de alguns marginais que pouco conhecem mas que, se juntaram a eles pela fama e possibilidade de participar de um roubo orquestrados pelos já notórios fora da lei.
Entre eles estão os irmãos Charley (Sam Rockwell) e Robert Ford (Casey Affleck, em notável performance). Apesar do aparente sucesso no roubo ao trem, Jesse e Frank acabam por se separar e, desta vez, não apenas para despistar a polícia e, sim, definitivamente. Todos os demais membros do bando separam-se, permanecendo com Jesse apenas os irmãos Ford.
Neste caminho trilhado por Jesse ao lado dos Ford ficam evidentes as fraquezas e os problemas do homem que já havia se tornado um mito e que, para Robert Ford, a princípio, era verdadeiramente um ícone. Jesse demonstra cansaço, alterna humores, não parece confiar em mais ninguém, é duro mas aparenta preocupação permanente. Bob Ford percebe que o homem que conhecia e admirava desde a infância a partir de relatos de jornais e livros que chegaram a sua mão, é uma pálida sombra daquilo que lera ou ouvira falar.
Jesse James parece ainda menos heróico e mais humano aos olhos de Bob pelo simples fato de ter uma família, mulher e dois filhos, o que o torna muito mais mortal e próximo do que a princípio se poderia pensar em relação a um tão renomado assaltante e frio assassino. Matar Jesse James, traindo sua confiança, demonstrando suas fraquezas e entregando o cadáver de um mito daquele tempo parecia a Bob Ford o caminho mais curto para a glória, ele só não imaginava as consequências reais de seus atos…
E é justamente neste ponto que o filme se mostra grandioso, ao colocar frente a frente dois homens atormentados pelas circunstâncias de suas existências… O primeiro, Jesse James, um homem que sabe ter seus dias contados, sua experiência abreviada, finita, e seus dias de êxito e fama próximos do fim… O segundo, Robert Ford, um jovem aspirante a todas as benesses que o mundo poderia lhe oferecer caso conseguisse o que nenhum grande pistoleiro fizera até então, tombar o mito…
O ocaso de uma lenda causado por um homem perturbado, pobre de espírito, frágil, covarde… Um filme épico, daqueles que, ao findar, nos deixam atônitos, tontos, sem saber ao certo o que pensar… Cinema de primeiríssima!
Por João Luís de Almeida Machado
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