Tiros em Columbine (Bowling for Columbine, EUA/2002)







Imagine, o que a princípio pode parecer totalmente absurdo, mas que é absolutamente real, um banco que para aumentar a quantidade de correntistas e estimular o uso de seus serviços se compromete a dar para seus novos clientes uma arma de fogo em troca de depósitos e investimentos regulares. O banco em questão existe e a inusitada situação foi filmada e gravada em um documentário que consegue, ao mesmo tempo, ser hilário e tratar de um tema para lá de grave, o armamentismo como uma chaga da sociedade norte-americana.


Michael Moore (talentoso produtor e realizador cinematográfico e televisivo) começa seu filme “Tiros em Columbine” colocando o espectador em transe ao deslocá-lo para esse banco. Continua ao longo de todo o período de projeção mostrando outras situações embaraçosas e intrigantes como a realização de reuniões da poderosa Associação Americana do Rifle, presidida pelo astro do cinema americano Charlton Heston (“Ben Hur”, “Os Dez Mandamentos”), sendo realizadas em cidades que haviam vivido tragédias recentes motivadas pelo uso indevido de armas por crianças e adolescentes.


Com seu humor ácido, Moore desafia a mídia e os defensores do livre comércio de armas ao nos mostrar a tristeza e a amargura de familiares e amigos de jovens que tiveram sua vida encerrada precocemente pela apologia da liberdade que permite a qualquer um entrar numa loja de departamentos e comprar armas e munição sem maiores problemas.


Nesse desafio, o cineasta (com o apoio de dois jovens sobreviventes da chacina de Columbine) consegue inclusive fazer com que uma das maiores redes varejistas americanas (a K-Mart) deixe de vender armas e munições em suas lojas, espalhadas por todo o território americano. Um verdadeiro feito!


Moore mostra a história do armamentismo americano em um divertido desenho animado inserido no documentário, entrevista o pai de um dos terroristas que explodiu um prédio público em Oklahoma, visita feiras e exposições de armas, nos coloca em contato com milícias armadas e deixa para o final o clímax com uma entrevista para lá de surpreendente com Charlton Heston. Imperdível! (“Tiros em Columbine” ganhou o Oscar de melhor documentário).


Por João Luís de Almeida Machado


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