Talvez a expressão “o iluminado” pudesse ser melhor aproveitada se fosse aplicada a Stanley Kubrick, certamente um dos maiores e mais importantes nomes do cinema mundial desde o seu surgimento. Kubrick levou ao pé da letra a idéia do cinema como a sétima arte e elevou o nível da produção fílmica mundial com a sua contribuição através de obras imortais do porte de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Spartacus”, “Laranja Mecânica”, “Nascido para Matar”, “Barry Lindon”…
Mas “O iluminado” ao qual nos referimos é o título de mais uma genial produção desse mestre do cinema. E, talvez, um dos mais improváveis sucessos se analisarmos a obra de origem da referida produção, o romance homônimo escrito pelo autor best-seller, Stephen King. Os livros de King, provavelmente o mais popular autor da literatura de terror desde os anos 1980, não são exatamente obras-primas. Certamente contam boas histórias, daquelas que realmente arrepiam nossos cabelos e que, nas mãos de cineastas diversos, renderam produções cinematográficas de boa [Christine, o carro assassino] ou até mesmo ótima repercussão [Conta Comigo; Carrie, a estranha], mas não é possível sempre acertar a mão, ainda mais nesse gênero, considerado um dos mais difíceis e que rendeu poucas produções consideradas clássicas ou cultuadas.
“O Iluminado” se tornou um clássico e é cultuado e isso se deve, em grande parte, as escolhas acertadas do diretor Stanley Kubrick. Por exemplo, o elenco encabeçado por Jack Nicholson [mais uma vez em grande atuação] teve como ótimos contrapontos a competente Shelley Duvall, o músico Scatman Crothers e o menino Danny Lloyd. Cada um deles, a sua maneira, ajudou a dar mais brilho a produção. Lloyd, apesar da pouca idade, teve atuação bastante verossímil e nos fez crer que realmente ouvia e falava com alguma força oculta. Duvall teve a difícil tarefa de representar a pessoa que ainda mantinha a lucidez no meio daquele imenso e deserto hotel, isolado do mundo pela neve. Mas foi o bom e velho Jack Nicholson quem realmente deu o toque de Midas ao filme, acrescentando à trama toda a necessária dose de loucura que somente ele é capaz de representar com tanto brilhantismo [alguém consegue se esquecer de “Um estranho no ninho” de Milos Forman?].
Se não bastasse isso, Kubrick sempre foi um excelente diretor de atores e, mais que isso, era um perfeccionista que chegava a gravar a mesma cena pelo menos 40 vezes até que conseguisse as expressões desejadas para cada seqüência. Em “O Iluminado” sua média foi ainda maior, segundo consta, chegava a gravar 70 vezes a mesma tomada…
Agora, para completar, o diretor alterou a história de Stephen King, tirando propositalmente do início qualquer menção ao passado do personagem de Nicholson. Sua intenção foi bem sucedida, ou seja, a de criar sempre a dúvida quanto aos aspectos sobrenaturais do filme, sem que os espectadores pudessem saber se os acontecimentos da trama eram realmente coisas de outro mundo ou se apenas consistiam em criações da cabeça de Jack Torrance [Jack Nicholson].
Resultado, uma história de arrepiar os cabelos, daquelas que realmente nos fazem prender a respiração e perder o sono. Não aconselhável para cardíacos e, certamente, nem um pouco recomendável para menores de 16 anos…
Obs. Perceba também como a trilha sonora escolhida para o filme é praticamente perfeita e nos coloca no clima de suspense e pavor desejados por Kubrick…
Por João Luís de Almeida Machado
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