Adeus, Lênin! (Good Bye Lenin! Alemanha/2003)



Imagine-se como o personagem Rip Van Winkle, que sai de sua aldeia e iludido por fantasmas com os quais bebe e joga por algum tempo, adormece profundamente para acordar somente dali a 20 anos. Pense no drama recentemente noticiado de um norte-americano que sofreu um acidente e ficou em coma por longo período, desde o governo Reagan até a administração de George Bush e o conflito no Iraque. Lembre-se da situação vivida por um soldado japonês, representante das forças imperiais nipônicas durante a 2ª Guerra Mundial que, isolado do mundo e sem rádio, guardou bravamente o território conquistado por seu país sem saber que a guerra havia acabado e que os japoneses tinham sido derrotados...

A ficção e a vida real nos colocam em contato com várias histórias em que as pessoas perdem contato com a realidade ao seu redor e, depois de algum tempo, miraculosamente retornam a um cotidiano totalmente diferente daquele em que viviam antes.

“Adeus, Lênin!”, representante do novo cinema alemão, nos coloca em contato com uma curiosa e estimulante reflexão a respeito do que aconteceria se uma ardorosa partidária do socialismo da Alemanha Oriental fosse vitimada por um ataque cardíaco e entrasse em coma justamente no período em que seu país estava prestes a vivenciar a Queda do Muro de Berlim.

Já pararam para pensar a respeito do que aconteceu com as pessoas totalmente crédulas no sistema, confiantes na ditadura do proletariado, divulgadoras dos ideais marxistas e que todos os dias reafirmavam para todos com quem conviviam a ladainha governamental?

A estrutura burocrática criada pelos russos no leste europeu entre seus aliados, como a Alemanha Oriental, propagandeou durante anos as vantagens do socialismo e os problemas do capitalismo. A televisão e os meios de comunicação de massa, submetidos à rígida censura estatal jamais puderam noticiar as crises e as dificuldades pelas quais passavam a própria população de seus países. A carestia material que fazia com que existissem racionamentos e que os produtos fossem distribuídos de forma controlada era situação corriqueira jamais passível de discussões, reclamações ou qualquer tipo de divulgação...

O sistema tinha que ser entendido como perfeito. Qualquer oposicionista estava sujeito a perseguições, afastamento, prisões ou mesmo a morte. Os grandes desfiles militares enalteciam o crescimento nacional e, ao mesmo tempo, procuravam intimidar reações ao demonstrar o potencial bélico dos países.

“Adeus, Lênin!” nos coloca em contato com essa amarga realidade e confronta seus personagens com um dilema... Afinal, devem ou não contar o que aconteceu a mulher que estava em coma e se recuperou subitamente? O que vocês fariam?

Por João Luís de Almeida Machado

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