Ação e adrenalina são, normalmente, termos utilizados para propagandear blockbusters como "Inimigo do Estado", filme de Tony Scott, estrelado pelos astros Will Smith e Gene Hackman. Mas limitar esta produção a estes adjetivos é reduzir em demasia aquilo que sua história contempla, há muito mais nas entrelinhas do que apenas vertigionas e instigantes cenas de perseguição, suspense e aventura. "Inimigo do Estado" é um filme que antecipou no tempo a discussão acerca dos direitos dos cidadãos quanto a privacidade num mundo cada vez mais "observado", "monitorado" e, por conta disto, certamente, "cerceado" no que se refere as suas liberdades (de pensamento, expressão, ir e vir...).
Vivemos hoje no mundo aquilo que havia sido preconizado por George Orwell, escritor inglês responsável por obras como "A Revolução dos Bichos" e "1984", ou seja, o surgimento do "Big Brother", o "Grande Irmão". Neste contexto social configurado há um estado aparentemente democrático em que os movimentos de seus cidadãos são sempre acompanhados de perto por câmeras que denunciam práticas irregulares ao que é pregado pelo governo e que, como conseqüência disto, suscitam penalizações a estes "infratores".
O filme do diretor Tony Scott, lançado em 1998, ainda nos primórdios da internet comercial no mundo inteiro, nos coloca em contato com o advogado Robert Clayton Dean (Will Smith), bem sucedido em sua área de trabalho, com casa confortável, em bairro de classe média alta, esposa e filho. Sua vida, por conta de um encontro casual com um antigo colega de faculdade, vira de cabeça para baixo já que tal amigo, fugindo de perseguidores implacáveis, associados a um crime político, deixa numa das sacolas que estão com Clayton, um arquivo eletrônico contendo filme em que o assassinato de um senador é mostrado em detalhes...
Desde o momento em que é detectado o aparecimento do filme pelos mandantes do crime, articuladores de um sistema de monitoramento via satélite e demais sistemas eletrônicos a ser aprovado no congresso e que estava sendo vetado pelo senador assassinado, inicia-se uma frenética busca por este arquivo fílmico. E, para obtê-lo, utilizam-se os moderníssimos recursos governamentais disponíveis como satélites, grampos (em roupas e ambientes), câmeras por todos os lados e computadores, para descobrir quem são as pessoas que têm o filme, como são suas vidas, por onde andam, quanto ganham, o que compram...
E, como o filme não é obtido após falsa tentativa de assalto a casa do advogado, o plano passa a ser persegui-lo a qualquer custo, sabotar sua vida pessoal e profissional e, se necessário, até mesmo matá-lo... Como sair desta com vida e ainda recolocar ordem no caos de sua existência com todos os indícios criados para que ele, Clayton (Will Smith) passasse a ser visto como um criminoso? Ainda mais tendo em seu encalço um grupo de paramilitares mercenários contratados pelo figurão que ordenou a morte do senador? Só com a ajuda de quem compreenda o sistema utilizado por estes bandidos de colarinho branco, como o veterano agente da CIA, aposentado prematuramente, e que agora vende seus serviços anonimamente, Brill (Gene Hackman)...
"Inimigo do Estado" é adrenalina, suspense, ação e tudo de bom quanto um grande blockbuster estrelado por Smith e Hackman (além de elenco de apoio que conta com Jason Robards, Jack Black, Jon Voight e Gabriel Byrne) pode oferecer, mas fiquem atentos, porque como dissemos, este filme demonstra também como estamos vulneráveis quanto a nossa privacidade e direitos civis elementares em tempos de "Big Brother"...
Por João Luís de Almeida Machado
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