A Queda - As Últimas Horas de Hitler (Der Untergang, Alemanha/Itália - 2004)









Somos verdadeiramente surpreendentes. Conseguimos reunir dentro de cada um de nós uma vasta galeria de personagens que compõe, em seu conjunto, a personalidade e o caráter que possuímos. Tentamos ser coerentes na maior parte de nossa existência e, por isso, tendemos a agir de uma mesma forma em diferentes situações e contextos. Imaginamos sempre que as pessoas que estão ao nosso redor agem da mesma maneira, praticamente todo o tempo, em seus ambientes domésticos, profissionais ou em seu círculo de amizades...





Quando deslocamos o nosso olhar do cotidiano e tentamos focar a história e seus grandes personagens (para o bem ou para o mal), acabamos caindo em estereótipos. Descrições ou narrativas acerca dos biografados celebrizadas através de livros populares nas escolas e bibliotecas.





Em relação a Adolf Hitler não poderia ser diferente, ainda mais tendo em vista toda a destruição e a grandiosa quantidade de mortos produzidos pelo Terceiro Reich comandado pelo líder nazista. A imagem que temos de Hitler é a de um autêntico monstro, daqueles que transpiram maldade pelos poros de seus corpos a cada segundo. Milhões de judeus, russos, poloneses, ciganos e tantos outros grupos étnicos, religiosos ou nacionais perseguidos pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial serviriam de elemento comprovador dessa personalidade devastadora e mortal...





Talvez por esse motivo o filme A Queda – As Últimas Horas de Hitler tenha sido tão surpreendente aos olhos das platéias de todo o mundo. Foi inclusive alvo de críticas de muitas pessoas que viram na produção do diretor Oliver Hirschbiegel uma tentativa de humanizar o führer nazista.





O que as pessoas não perceberam é que a história do filme foi concebida a partir de relatos produzidos pela secretária de Hitler em sua última etapa como líder de uma Alemanha sedenta de conquistas, imperialista e destruidora, porém praticamente derrotada. Detalhes da intimidade do líder nazista como a forma educada e polida, próxima e até mesmo calorosa com que tratava seus mais fiéis colaboradores (como a própria secretária) ou ainda a fé que parecia depositar na juventude nazista pareceram promover, aos olhos do grande público, um desconhecido lado da personalidade do “monstro” que todos pensavam conhecer.





O diretor Hirschbiegel estava, no entanto, respaldado por outro importante e distinto “colaborador”, um dos maiores especialistas mundiais na Segunda Guerra e biógrafo de Hitler, o historiador Joachim Fest. O que se quis fazer ao produzir o filme não foi, como muitos pensaram, tentar resgatar e dar alguma dignidade a esse impressionante e assustador líder político e militar da Alemanha. A produção do filme tinha como maior interesse desvelar e desvendar o mito e aura criados em torno do führer, demonstrando toda a sua decadência, descontrole, fraquezas e medos.





Hitler praticou atos totalmente condenáveis, proferiu e defendeu idéias preconceituosas, foi o responsável direto pela morte de milhões de pessoas, se mostrou intolerante e belicoso. Isso é história registrada através de todos os dados coletados a partir das tenebrosas ações nazistas antes e durante a guerra mundial. Hitler também era respeitado, idolatrado e tratado com veneração por seus generais, assessores, amigos e povo alemão até o momento de sua morte que resultou na capitulação germânica naquele conflito. Vale também esse registro como sendo histórico e legítimo de uma imagem que poucos mortais pensavam existir até a realização e exibição dessa autêntica obra-prima!





Por João Luís de Almeida Machado

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