Dois Filhos de Francisco (Brasil, 2005)




Sempre falamos do “American Dream” quando abordamos o sonho da prosperidade. Esse termo pode ser pensado historicamente a partir de suas bases mais imediatas, relacionando-o a possibilidade de melhorar de vida, de ter um maior conforto material em nossas existências ou mesmo de enriquecer no contexto de uma economia capitalista que nos oferece “constantes” chances de crescimento.

Essa concepção histórica mais próxima no tempo, no que tange a prosperidade, vincula-se ao rápido desenvolvimento e acumulação de capital por parte de uma razoável quantidade de pessoas ao longo da história dos Estados Unidos no período posterior a sua independência (1776), principalmente no século XIX.

As bases de colonização diferenciadas dos demais países colonizados por europeus, a imensidão do território americano conquistado e ampliado ao longo do século XIX, as estruturas comerciais e produtivas inspiradas no modelo inglês, a agressividade e interesse dos governos norte-americanos em expandir as fronteiras e a economia são alguns dos fatores que motivaram a consolidação desse “american dream”.

Há, também, um outro sonho americano, anterior ao mencionado, e fugaz em suas perspectivas para o próprio continente. “Fazer a América” foi a expressão que caracterizava as expectativas e ilusões de muitos europeus que cruzaram o Atlântico em direção a América em busca das riquezas e terras desse novo eldorado.

Seja por influência dos sonhos norte-americanos em sua expansão capitalista ou das ilusões européias quanto às novas terras que estava a conquistar, os brasileiros também criaram a sua versão desse almejado desejo de independência financeira e enriquecimento. A busca do nosso povo “macunaíma” pelo sucesso profissional e sua conseqüente criação de fontes de riquezas perenes é tão antiga quanto o próprio país.

Existe, porém, uma diferença entre os acontecimentos do período colonial ou da época imperial com o que vivemos no período pós-proclamação da República. Se naqueles tempos de outrora prevaleciam títulos, posses de terras e escravos, parentescos ou proximidade com os nobres da corte, o advento e a consolidação do sistema republicano representaram a instauração de uma ordem capitalista plena em terras tupiniquins.

É claro que as relações de proximidade e/ou de sangue ainda influenciam (positiva ou negativamente), dentro do contexto republicano, na maior ou menor proximidade do povo brasileiro com a riqueza; no entanto, ganhar dinheiro se tornou possível a partir de iniciativas pessoais que aliassem talento, esperteza, boas idéias e/ou tino para os negócios. Num país em que um vendedor de canetas se tornou o dono do “baú” que contêm tantas e tão prósperas empresas, materializou-se o tal sonho brasileiro ao qual me refiro no título desse artigo.

O filme Dois Filhos de Francisco, do diretor Breno Silveira, grande sucesso de público e, surpreendentemente, também de crítica, nos coloca em contato com uma dessas fascinantes histórias de superação, dor, amarguras, erros, descaminhos e, é claro, de sucesso indiscutível. Pode-se gostar ou não da música de Zezé di Camargo e Luciano, mas não se pode negar que eles realmente chegaram lá e que, além disso, tudo o que conseguiram foi merecido.

Assim como, deve ficar claro que temos que superar as eventuais restrições ao gênero sertanejo romântico ao assistirmos o filme para que possamos entrar em contato com um outro Brasil, idílico (que parece não existir mais), interiorano e rural, dos migrantes que saem da roça e vão para a cidade em busca da realização e da felicidade. Assistir a Dois Filhos de Francisco foi, sem dúvida alguma, uma grande surpresa e satisfação para mim. Não percam!

Por João Luís de Almeida Machado

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