Machuca (Chile/Espanha, 2004)



O atual cinema latino-americano tem feito grande sucesso mundo afora. A repercussão de filmes produzidos no Brasil, México, Argentina, Chile e alguns outros países pode ser percebida pelo crescimento de público dentro dos próprios centros que os realizaram quanto fora, em mercados estrangeiros. Outro indicativo interessante são as críticas positivas escritas pelos analistas de cinema das mais diversas nacionalidades, entre os quais podemos destacar europeus e norte-americanos. Se não bastasse tudo isso, também as premiações internacionais são demonstrações do atual momento vigoroso e resplandecente pelo qual a indústria cinematográfica “cucaracha” tem passado.

“Machuca”, do diretor Andrés Wood, uma co-produção chilena e espanhola, é mais um título a ser destacado nessa vitoriosa safra do cinema latino-americano. E é muito importante que possamos nos ater momentaneamente ao brilho das produções locais para que tenhamos condições de entender o que leva ao surgimento de um grande filme. Essencialmente a base de uma película diferenciada está no roteiro e, obviamente, na história a ser contada.

Não basta, no entanto, que essa primeira etapa seja bem realizada e gloriosa. A capacidade de transpor as palavras para as telas e, de trazer os atores certos para os papéis propostos nas tramas é, igualmente, uma arte. Junte a isso a direção de atores, a música que acompanha as cenas, a cenografia (composição dos elementos que irão aparecer nas filmagens), a fotografia esmerada e os outros elementos técnicos básicos para uma filmagem e, então teremos as explicações para o sucesso de um filme.

O que temos visto nos últimos tempos entre os países em desenvolvimento do continente americano é a feliz conjunção de um aperfeiçoamento técnico (decorrente de um intercâmbio com as escolas cinematográficas estabelecidas há mais tempo) e a conseqüente atualização dos conhecimentos sobre cinema com a ancestral habilidade de contar histórias dos povos da região. E como temos grandes histórias e temas para contar...

O mais interessante de tudo é que, geralmente, o cinema latino-americano trabalha com temáticas universais como o amor, a amizade, as diferenças, os encontros, o medo, a violência, a solidariedade,...

“Machuca” nos coloca em contato com o Chile do presidente socialista Salvador Allende e, diferentemente do que pode se pensar a princípio, trabalha a dicotomia entre o socialismo e o capitalismo a partir do encontro entre estudantes que estão começando a ingressar na adolescência. Esta dicotomia se percebe no encontro de dois mundos, relativos justamente aos protagonistas e suas realidades antagônicas, a favela e os bairros nobres de Santiago. Tudo isso ainda vem acompanhado de alguns dramas típicos da transição que vivemos quando temos nossos 13 ou 14 anos e todo aquele turbilhão de hormônios para administrar. É, sem dúvida alguma, mais uma obra sensível e inteligente produzida por nossos “hermanos”.

Por João Luís de Almeida Machado

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