Substitutos (Surrogates, EUA/2009)



A ficção científica tem nos legado de forma antecipada visão privilegiada do futuro. Livros, filmes e histórias em quadrinhos (no formato Graphic Novels) descrevem com alguns anos (ou décadas) de antecedência aquilo que a ciência prepara em laboratórios herméticos, fechados, distantes do grande público. Quando ficamos sabendo para valer? No momento em que uma tecnologia ou um produto químico de valor precisa ganhar o mercado e é lançado por industriais ávidos pelo lucro arduamente perseguido desde o surgimento de um projeto.

Quem poderia, por exemplo, imaginar que os comunicadores instantâneos de Star Trek se tornariam peça corrente do uso de milhões de pessoas no mundo inteiro, tanto no Oriente quanto no Ocidente, naquilo que hoje é onipresente em nossas mãos, os telefones celulares? Ou ainda que os computadores pessoais, tão improváveis de acordo com alguns pensadores até os anos 1970, viessem a ser vistos como imprescindíveis para a vida humana, em especial a partir do advento da internet comercial?

Portanto, não duvide, filmes como "Substitutos", aparentemente fantasiosos ao extremo, com seus "surrogates" (ou replicantes, como em Blade Runner), inventados para legar aos seres humanos a segurança que deixou de ser percebida e vivenciada nas ruas do mundo inteiro, podem eventualmente surgir sem que nem ao menos venhamos a perceber isto...

Afinal de contas, ter um dublê mecânico/eletrônico, acionado por você através de controle cerebral, que vá ao seu trabalho, cuide da casa, corra todo e qualquer risco ao andar pelas ruas, seja esteticamente perfeito (não envelhece e pode ter a aparência que você quiser, igual a sua quando jovem ou qualquer outra, mesmo de outro sexo...), pratique esportes radicais com os quais você sempre sonhou (mas que tinha receio de praticar), viva a noite e suas inúmeras possibilidades e, que, ainda que ferido ou destruído, não lhe faça sentir qualquer dor ou possibilidade de perecer não é mesmo uma possibilidade fantástica?

E o melhor... Enquanto ele está nas ruas, no meio de toda aquela fadiga e stress, você vivencia em seu cérebro as experiências enquanto fica relaxado numa cadeira...

Outro dia uma colega de trabalho me falou que gostaria de ter um clone (ou um robô, como neste filme) e me perguntou o que eu achava disto... Afinal de contas este ser poderia ir a escola no lugar dela, trabalharia quando ela não estivesse disposta, iria as compras se ela quisesse ir passear... Disse-lhe que, sinceramente, abria mão de qualquer "dublê de corpo" (título de uma obra-prima do suspense, do mestre Brian de Palma), que preferia eu mesmo viver cada situação prevista para minha vida, mesmo que em alguns casos, sejam experiências dolorosas, afinal, há rosas e espinhos em nosso caminho...

"Substitutos", do diretor Jonathan Mostow, é um filme rápido (88 minutos), de ação contínua, com algum suspense, tem Bruce Willis no elenco (o que garante diversão, pois o astro não apenas faz filmes de ação, mas dá todo um charme e ironia aos personagens que interpreta), todos ingredientes que agradam (muito) o público em geral.

O principal, no entanto, a meu ver, é a trama conter elementos que tentam nos fazer perceber que de algum modo, aquele futuro já está por aqui... Na internet e em nossa relação intensa demais com as tecnologias... Nos simuladores de realidade de games e softwares cada vez mais complexos e próximos daquilo que existe no mundo real... Na fábrica de sonhos que reproduz nosso cotidiano e universo em plataformas como o Second Life ou o jogo The Sims (entre muitos outros)... É melhor abrir os olhos (os nossos mesmos), antes que avatares (ou surrogates) ocupem nossos lugares em definitivo...

Por João Luís de Almeida Machado

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