Você sabe quem foi Wilson Simonal? Isto é, além de ser pai de Max Wilson e Simoninha, artistas que estão no mercado e que tem feito sucesso? Pois é, Simonal era, no início da década de 1970, o artista/cantor mais popular do país, ao lado de Roberto Carlos, segundo palavras de Nelson Motta, um dos mais conceituados jornalistas e empreendedores do ramo artístico no Brasil há tempos. Creio que, assim como Chico Anysio e Ziraldo (entre outros), que se Simonal não tivesse se enrolado com a ditadura militar de forma cândida e movido por sua confiança na popularidade que tinha, provavelmente ainda hoje estaria nos palcos e seria celebrado como um dos maiores nomes do entretenimento nacional.
E quando falo entretenimento, é proposital, pois este homem era um completo showman, ou seja, capaz de cantar como poucos, dançar, interpretar durante suas apresentações e, como nunca vi em minha vida, magnetizar o público, na TV ou em shows, para que cantasse com ele, sendo que Simonal tornava-se o regente destes enormes corais. Tinha um carisma fora do comum. Foi comparado a Sammy Davis Jr., um dos grandes nomes do Showbussiness nos Estados Unidos.
Foi ele quem criou a idéia, por exemplo, de cantar "País Tropical", letra e música de Jorge Benjor, resumindo a partir de um determinado ponto da cantoria as palavras as suas primeiras silabas, a célebre e já popular versão em que falamos Patropi, ao invés de País Tropical, por exemplo. Benjor depois se apropriou da idéia e, para todos aqueles que não conheceram Simonal, foi o criador também desta artimanha...
Teve seu grande momento no final dos anos 1960, com a "pilantragem", misto de gênero musical e comportamento malandro, malemolengo, típico do Rio de Janeiro, que o tornou figurinha frequente nos jornais e revistas da época. Nos festivais de música, promovidos pelas emissoras de TV, que lotavam ginásios como o Maracanãzinho, deu mostras de sua enorme popularidade e ofuscou grandes nomes da MPB. Cantou com Sarah Vaughan, o maior nome da canção americana naquela época. Fazia shows por todo o Brasil e também pelo mundo afora (EUA, América Latina, Europa).
E como, a esta altura você pode estar se perguntando, hoje não sabemos nada dele? Pois é, Wilson Simonal pagou um preço altíssimo por sua prepotência e ingenuidade... Teve algumas dificuldades pessoais e resolveu utilizar-se de sua popularidade para pressionar alguém que imaginava estar lhe roubando, seu contador... Para isso convocou conhecidos do exército para dar uma surra, no estilo ditadura, tipo Dops, com choques elétricos e tudo... Foi parar na polícia, respondendo por isso... Para se safar resolveu dizer que era amigo dos militares, do ministro do exército e que informava a ditadura sobre ações subversivas...
Foi o seu fim... Numa época em que ou se estava com a ditadura ou com a oposição ao regime, virou sinônimo de delator, dedo-duro, alcaguete... Depois disso, passou a ser escorraçado de tudo quanto é lugar, virou inimigo público de artistas e intelectuais, foi esquecido mesmo... Foi morto em vida, sendo despachado para a Sibéria sem sair do Brasil... O grande artista foi iludido por sua fama, apesar de tudo ser apenas galhofa, garganta ou simplesmente mentira...
Simonal foi abandonado e morreu, no ano 2000, praticamente esquecido, alcólatra, tentando ajudar os filhos, em início de carreira. Como ajudava? Ficando nas sombras, não se mostrando, pois pensava que isso podia prejudicá-los... A patrulha ideológica violentíssima que existia no período da ditadura, a esquerda e a direita, não permitiam deslizes...
Simonal, vindo de família pobre, filho de empregada doméstica, negro num país onde o racismo é enrustido mas existe, "mascarado" como ele mesmo dizia, vestindo-se bem, andando de carrão (chegou a ter 3 mercedes, de acordo com Tony Tornado), gordos contratos publicitários, várias namoradas brancas e popularíssimo, era o alvo perfeito... Um deslize e tudo mudou, do céu ao inferno em uma infeliz declaração...
"Simonal - Ninguém sabe o duro que dei", documentário brasileiro de 2009, dirigido por Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, mais uma pérola do cinema nacional, nos traz esta história fantástica, do grande artista que o Brasil enterrou em vida por conta de um erro que qualquer pessoa podia ter cometido... Um documento importantíssimo para entender a música brasileira, a ditadura, a vida humana... Não percam!
Por João Luís de Almeida Machado
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